sexta-feira, 22 de junho de 2012

Carta a Rede Bandeirantes de Comunicação

Ao Diretor de Jornalismo da Rede Bandeirantes de Televisão

Prezado Senhor Fernando Mitre,

Dirigimo-nos respeitosamente ao Departamento de Jornalismo da Rede Bandeirantes, cujo jornalismo é reputado como um dos mais qualificados da televisão brasileira, para refutar a opinião do comentarista Alberto Almeida, emitida no Jornal da Noite no dia 13/06/2012. [veja o vídeo]

O comentarista aproveita o bordão do âncora Boris Casoy  para dizer que a “greve nas universidades é uma vergonha” e começa a elencar de forma simplista os seus argumentos.  Alberto Almeida afirma que as greves são decididas por uma minoria. As atas das assembleias que têm chegado ao Comando Nacional de Greve (CNG) – ANDES/SN mostram que um número representativo de docentes tem comparecido às assembleias , que são abertas  e amplamente divulgadas pelas seções sindicais. É importante frisar que os docentes que comparecem às assembleias têm uma representatividade legítima que não pode ser levianamente desqualificada. São milhares de professores em todos os cantos do país que participam de discussões aprofundadas sobre o tipo de Universidade que queremos.

O segundo argumento elencado pelo comentarista é que cursos de Engenharia, Medicina e Direito nunca param. Uma conferência in loco, papel do bom jornalismo, desmentiria essa afirmação. A ampliação do número de cursos e de campi no Brasil afora (o que defendemos), mas feita sem o devido planejamento (o que criticamos), tem deixado vários cursos em precárias condições de funcionamento - cursos sem laboratórios, sem professores, prédios inacabados- alguns tiveram inclusive que retardar o início do semestre letivo. A precariedade das condições de trabalho atingiu níveis tão alarmantes, que os cursos de Medicina e Direito também aderiram ao movimento paredista.

A verdade é que a desvalorização, por parte do governo, do trabalho docente e da dedicação exclusiva ao ensino, pesquisa e extensão, leva muitos professores desses cursos a procurarem na iniciativa privada complementos salariais. A necessidade de buscar outras fontes de renda precariza as condições de trabalho do professor e pode comprometer a qualidade do Ensino.

Ignorando o direito constitucional, através do qual os trabalhadores têm na greve um instrumento legítimo de reivindicação dos seus direitos, o comentarista diz que as greves dos professores são remuneradas. Todo professor ético, compromissado com a educação de qualidade, repõe as aulas que não foram dadas durante a paralisação, portanto, recebe pelo seu trabalho. Vale lembrar que os professores só consideraram a alternativa da greve depois de dois anos de tratativas com o governo que não resultaram em cumprimento de acordos assinados.

Acrescentamos ainda que o próprio momento da greve é tempo/lugar de reflexão sobre a Universidade, seu papel na construção de cidadania e análise crítica sobre  os rumos  da Educação. As aulas de cidadania que têm sido ministradas nas praças e anfiteatros demonstram que outra Universidade é possível, viva, pulsante, participativa.

Temas fundamentais  como a discussão sobre os modelos produtivistas exigidos pelas agências de fomento (CAPES, CNPq, entre outras), a reflexão sobre as formas de democratização da gestão das Universidades, tem estado no centro dos debates feitos durante essa greve. O apoio maciço dado pelos estudantes, vários deles também votaram pela greve no segmento discente, comprova que a luta pela valorização do trabalho docente é também uma bandeira empunhada por eles.

Alberto Almeida termina por dizer que esta é uma greve conveniente e que não dá em nada. As greves não são convenientes, todos os docentes, estudantes e técnicos administrativos que estão envolvidos na construção do movimento de resistência ao desmonte da Universidade pública têm trabalhado arduamente durante esses dias. Preferíamos estar em sala de aula, prosseguindo nossas pesquisas e orientações, executando as muitas formas de extensão. A paralisação reafirma nossa resistência, nossa dignidade, nosso papel de educadores, conscientes de que sem Universidade pública, gratuita e de qualidade o Brasil jamais fará jus à condição de “gigante” que a propaganda oficial alardeia.

A partir dessas ponderações pedimos ao Departamento de Jornalismo da Band, o direito ao contraditório. O Comando Nacional de Greve e a diretoria do ANDES-SN se colocam à disposição da emissora no endereço e telefones em Brasília para posicionarem-se sobre o assunto.

Gratos pela atenção,

Comando Nacional de Greve - CNG/ANDES-SN
Brasília, 20 de junho de 2012

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