terça-feira, 11 de setembro de 2012

UFTM: 107 dias de greve


Há mais de cem dias que não se ouve o burburinho nas escadas, aquele riso de quem esbanja vida, mesmo tendo às vezes uma existência “severina”.
Sumiu do ar aquele misto de tensão e tesão. Tensão para a próxima prova, o próximo seminário, o trabalho que era para ontem. Tesão dos olhares desejantes que salteavam degraus, driblavam colunas e furtivamente se encontravam. Há três  meses a boca do mestre se fechou e foi obrigada a vociferar em outros lugares, clamar contra os burocratas, nas ruas, nas praças, em Brasília.  Há três meses que os olhos do menino/homem, da menina/mulher não se extasiam diante de um saber novo, aquele estremecimento de quem vê a possibilidade de resolver um problema, de alargar a visão critica, de sentir-se menos alienado. Ninguém corre, para devorar um cachorro quente em dez minutos, o bar da DePê está silencioso e triste. Os corredores são mais frios e escuros, o prédio todo tem um ar fantasmático. Dentro dele devia pulsar vida, questionamento, criticidade. Mesmo não sendo um primor de arquitetura, ali nos sentíamos mais unidos, mais fraternos. Que falta faz o sorriso da Antônia, a presteza do Maurício, a boa vontade de tantos técnicos. Amputaram nosso ano, retardaram nossas férias, empurraram contra nossos lábios o cálice amargo do desprezo. A greve é uma violência, e como tal deve ser sentida e vivenciada. Mas os culpados não somos nós, docentes, alunos e servidores que amam a Universidade
O governo, que disse não ter verba para valorizar a educação (nos ofereceu 4,2 bilhões em três anos), disponibilizou para a iniciativa privada cerca  de 80 bilhões via BNDES. Empreiteiras, muitas envolvidas  em falcatruas , outros que tão somente trocrão a razão social, farão “parceria” com o governo federal para “cuidar” e ampliar  a malha de estradas e ferrovias. E nós lhe perguntamos leitor - educação é prioridade em nossa “republiqueta”?

Bruno Curcino Mota . Professor de Literatura na UFTM. Doutor em Estudos Literários pela UNESP/Araraquara.

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