sábado, 26 de maio de 2012

Caindo aos pedaços, federal usa escola infantil para aulas

Alunos colocam faixas durante ocupação na Unifesp de Guarulhos; situação é precária (Joel Silva/Folhapress)'Estudamos Hegel com a molecada gritando', diz aluno

Situação da federal de município da Grande São Paulo expõe precariedade da rede nacional de universidades

Alunos lideram greve e exigem melhorias; diretor afirma que novo prédio está em processo de licitação



VANESSA CORREA
DE SÃO PAULO 

O portal de entrada destruído da Unifesp de Guarulhos já antecipa o que há lá dentro. Salas de aula abafadas, refeitório improvisado num galpão de madeira e 30 mil livros encaixotados por não haver lugar onde colocá-los.

A falta de infraestrutura é tanta que parte dos 3.070 alunos da universidade federal são obrigados a assistir às aulas numa escola municipal vizinha ao campus. Um edifício novo prometido desde 2007 nunca saiu do papel.

Por causa desse cenário, foram os alunos -e não os professores, como na maior parte das federais que estão sem aula no país- que decidiram entrar em greve.

Eles estão parados desde 23 de março. Ontem, após mais de dois meses de greve, decidiram ocupar a Diretoria Acadêmica, como fizeram em 2007, na primeira greve.

A situação na federal da cidade da Grande São Paulo expõe a falta de estrutura da rede nacional, uma das principais reclamações dos professores grevistas pelo país.

"Estamos discutindo Hegel [filósofo alemão] e a molecada tá no recreio, fazendo correria do lado da sala. A aula fica insuportável", diz o estudante Michael de Santana, 27.

Quatorze salas do CEU (Centro de Ensino Unificado) do bairro de Pimentas são usadas todos os dias, à tarde e à noite, por 500 estudantes da Unifesp de Guarulhos. No local, além de biblioteca, telecentro e piscinas, funciona uma escola de ensino infantil que atende 700 crianças.

A situação não melhora quando a aula ocorre no próprio campus, uma antiga escola técnica cedida pela prefeitura. "No verão é insuportável de quente, não tem ventilação e o prédio pega sol o dia inteiro", afirma Michael.

Outros alunos que preferiram não se identificar por medo de represálias reclamam dos mesmos problemas, além do refeitório "pequeno demais" e filas de até 40 minutos para tirar uma fotocópia.

A falta de uma sala climatizada impede que a ilha de edição de vídeo obtida por um professor com a Fapesp (agência estadual de fomento à pesquisa) seja usada, reclama a estudante de Ciências Sociais Juliana Barros, 18.

O diretor acadêmico da Unifesp Guarulhos, Marcos Cezar de Freitas, afirma que o uso do CEU já era uma situação planejada com a prefeitura, como contrapartida pela instalação da universidade ali, e que as salas serão devolvidas assim que o prédio novo for construído.

Segundo Freitas, a licitação foi concluída, e um prédio em frente ao campus foi alugado para abrigar mais salas.

Greve atinge 70% das universidades federais

DE SÃO PAULO
DO RIO
DE PORTO ALEGRE

Em dez dias de greve, quase 70% das universidades federais do país estão parcialmente ou totalmente sem aulas. Na Grande São Paulo, a greve na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), uma das 41 instituições paradas (de um total de 59), é praticamente de 100%.

Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a paralisação não é total: cerca de 70% dos docentes aderiram ao movimento. Segundo a vice-presidente regional da Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), Sônia Lúcio Rodrigues de Lima, as quatro universidades federais do Estado aderiram parcialmente à greve dos professores.

"O nosso movimento tem dois eixos centrais: a reestruturação da carreira e a melhoria da infraestrutura educacional", afirma Marina Barbosa, presidente [do] Andes.

Todas as universidades federais em greve são da Andes (Conlutas, ligada ao PSTU). Outras, adeptas da Proifes (CUT, ligada ao PT, partido governista), não pararam.

De acordo com a dirigente sindical, assistente social da Universidade Federal de Viçosa, a categoria discute desde agosto de 2010 com o governo. "Como as propostas não mudaram desde lá resolvemos tomar a medida extrema da greve", afirma.

Uma das exigências salariais é o aumento do piso.

"Queremos que o piso mude dos atuais R$ 557, 51 para R$ 2.329,35, valor calculado pelo Dieese", afirma Marina.

O governo anunciou que vai aumentar em 4% a remuneração dos professores, mas a Andes reitera que vai continuar com a greve mesmo assim.

O Ministério da Educação classifica a greve dos professores das instituições federais como precipitada e sem nenhuma justificativa.

Fonte: Folha de S.Paulo (26/5/2012)

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