O anúncio de que o governo autorizou o desconto dos salários soou como provocação
para as 14 categorias de servidores públicos federais em greve. De acordo com
sindicalistas, a resposta será a radicalização do movimento, o que poderá
resultar em desgaste para a presidenta Dilma. Historicamente, os servidores
sempre conseguiram reverter as tentativas de corte de ponto. Em 2007, Lula
voltou atrás, pressionado. Em 2001, FHC foi obrigado a suspender o desconto por
determinação judicial.
Najla Passos - Brasília
Brasília - Os servidores públicos federais decidiram radicalizar a greve, em resposta à
autorização do governo para o corte de ponto dos servidores paralisados,
anunciada pelo Ministério do Planejamento (MP), na última sexta (6). “É
inadmissível que um governo do Partidos dos Trabalhadores prefira ameaçar os
servidores do que estabelecer uma negociação efetiva”, disse à Carta Maior o
secretário-geral do Sindicato dos Servidores Públicos do Distrito Federal
(Sindsep-DF), Oton Pereira.
Segundo ele, a autorização para desconto dos salários soou como provocação para os
grevistas. “Este anúncio acirrou ainda mais os ânimos. Várias assembleias e
protestos foram marcados, e deverão resultar em uma adesão ainda maior. Há uma
percepção geral de que o governo está obrigando os servidores a protagonizar a
maior paralisação já vista no serviço público brasileiro, inclusive para
defender nosso direito de fazer greve”, acrescentou.
O secretário-geral do Sindsep-DF afirma que, historicamente, os servidores
conseguiram reverter todas as tentativas de corte de ponto dos servidores em
greve, seja por meio da justiça ou pela própria pressão dos servidores. Em 2007,
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou atrás e suspendeu o corte
anunciado, em função da pressão social. “O governo se baseia em uma lei de greve
imposta pela ditadura militar para descontar os salários. E isso, politicamente,
é insustentável para um governo de base populares, porque vai de encontro ao
próprio direito de greve”, avalia.
Marinalva Oliveira, presidenta do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de
Ensino Superior (ANDES-SN), primeira entidade a entrar em greve, também acredita
que a medida só resultará em mais desgaste para o governo. “As universidades
públicas, têm, por lei, autonomia universitária. Em 2001, quando o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso determinou um corte de ponto de grevistas, os reitores
se recusaram a fazê-lo. O governo, então, cortou o ponto de todos os docentes, e
nós conseguimos reverter a medida judicialmente”, lembra.
Segundo ela, a comunidade universitária está indignada com a autorização e promete
intensificar ainda mais a paralisação. “Estamos com quase dois meses de greve e
ainda não conseguimos estabelecer uma negociação com o governo. Nossa pauta de
reivindicações foi protocolada em abril do ano passado e ainda não tivemos
resposta. Aliás, desde o início da greve, a única vez que o Planejamento nos
recebeu foi para pedir uma trégua e agendar uma nova reunião de negociação, que
acabou sendo desmarcada. E o governo ainda vem com ameaças”, critica.
Segundo ela, é por isso que o anúncio do corte de ponto provocou a indignação da base da
categoria. “Enquanto os professores leem, todos os dias, nos jornais, que o
governo autorizou mais investimentos em recursos para as grandes obras e novas
isenções fiscais para empresas, percebem que os investimentos na área social,
que engloba saúde e educação, ficam apenas no discurso. Parece que a crise
econômica é só para a área social”, acrescenta.
O secretário-geral do Sindsep concorda que greve desvela uma disputa de projeto
para o país. “Os servidores não estão lutando apenas por maiores salários.
Também pleiteamos uma melhoria dos serviços públicos, que não atendem às
demandas da população. Em todas as áreas, falta estrutura, faltam servidores. E
nós queremos um governo que tenha, de fato, o social como prioridade. E isso não
vai acontecer enquanto o governo destinar metade do seu orçamento para o
pagamento dos juros da dívida pública”, afirma.
Os docentes entraram em greve no dia 17/5, seguidos pelos servidores
administrativos e estudantes. Hoje, estão paradas 56 das 59 universidades
públicas do país, além de institutos tecnológicos, escolas técnicas e colégios
de aplicação. Somaram-se a eles, a partir de 18/6, mais doze categorias
representadas pelo Sindsep: funcionários dos ministérios da Saúde, Planejamento,
Integração Nacional, Agricultura, Justiça, Trabalho e Emprego e Desenvolvimento
Agrário, além dos do Itamaraty, Funai, Funasa e Arquivo Nacional.
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