quinta-feira, 19 de julho de 2012

Greve das Federais: por que os professores não aceitaram a nova proposta do governo?

A greve das Universidades Federais completou dois meses na última terça-feira. O governo fez uma proposta de reajuste para os professores que parece ser ótima, mas mesmo assim, os líderes das Universidades não mostraram muito contentamento com a proposta. A proposta anunciada pelo governo foi de um aumento salarial de 45%.

O SRZD entrou em contato com o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Luiz Mors para entender por que a proposta não foi vista com bons olhos e rejeitada por unanimidade pela ADUFF (Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense). Luiz falou sobre as reivindicações. "A greve tem como pauta três pontos: aumento salarial, melhoria nas condições de trabalho e reformulação do plano de carreira. A proposta só atende a uma das reivindicações, a do aumento salarial. E os 45% não são para todas as classes", reclamou.

Sobre o aumento, Luiz Mors disse que as pessoas precisam tomar mais cuidado para tirar uma conclusão. "Os jornais já divulgaram que o governo propôs 45% de aumento, noticiando inclusive que o professor passaria a ganhar R$ 17.000 reais. O aumento não é de 45%. O aumento é diferente para cada classe de professor. Só receberão os 45%, os professores titulares e os associados, que somados, chegam a aproximadamente, 25% do número total da classe. Outras classes ganham aumentos distintos. Professores adjuntos recebem 33%, e a classe mais baixa recebe o menor aumento, 22%. Olhando assim, pode até parecer uma boa proposta. Acontece que esses aumentos não são para agora e não serão dados de uma só vez. Serão concedidos em 3 parcelas, a primeira no meio de 2013, a segunda no meio de 2014 e a última, no meio de 2015", afirmou. Atualmente, a carreira do professor Universitário é dividida em auxiliar, assistente, adjunto, associado e titular.

Mors também falou sobre o tempo que a classe está sem reajuste. "Tirando os 4% de aumento que tivemos esse ano (e que havia sido acordado ano passado), não temos aumento desde 2010. Somando a inflação de 2010, com a de 2011 e com a previsão oficial de inflação para os próximos três anos (números do próprio governo), temos um total de 35,5%. Ou seja, para a grande maioria dos professores, o reajuste não cobre sequer as perdas com a inflação. As únicas classes que teriam aumento real de salário seriam os titulares e os associados, que receberiam uma aumento real de cerca de 9,5%. Para piorar, as aposentadorias não estão contempladas nos aumentos, levando a uma discrepância entre aposentados e ativos inadmissível", disse. Os professores titulares e associados seriam as classes que mais se beneficiariam com o aumento, porém, para se tornar professor titular, é preciso realizar um novo concurso. É o ponto alto da carreira. Por isso, poucos professores da UFF chegaram ao nível. Além disso, pela atual proposta de governo, apenas 20% de professores podem chegar ao nível de titular.

Condições de trabalho
"As condições de trabalho na Universidade vem se deteriorando nas Últimas décadas. Antes do governo Lula, os salários não eram aumentados a 14 anos. Lula reajustou os salários, mas condicionado, entre outras coisas, ao aumento do número de cursos e vagas oferecidas pela Universidade. Um estudo feito no âmbito da UFF mostrou que o número de professores hoje é igual ao número de professores no ano de 1995. As vagas novas serviram somente para repor os professores que se afastaram durante os anos anteriores (seja por aposentadoria, morte ou afastamento). Mesmo número de professores com mais alunos, fica claro que o professor passa então a ter mais trabalho. Você pode pensar que quem dá aula para um, dá para dez. Mas isso não é verdade, porque cada aluno tem que ser incluído em algum projeto de pesquisa, tem que ser recebido nos laboratórios, tem que ser inserido em algum projeto de extensão, e por aí vai. Tudo isso demanda muito trabalho ", explicou o professor.

Para concluir, o professor Luiz Mors falou sobre o atual estado das instituições e disse o que espera da greve. "A expansão das Universidades nos últimos anos não foi acompanhada de um aumento na infra-estrutura das mesmas. Ninguém mais ignora o estado de calamidade em que se encontram os Hospitais Universitários. Houve um processo de interiorização das Universidades. Torço para que as demais Universidades façam como a UFF, e rejeitem a proposta do governo. Caso isso de fato aconteça, entraremos em um momento delicado da greve, onde os professores serão demonizados por não aceitam um aumento de 45%. Por isso, é importante que vocês saibam que os números não são bem esses e estão sendo colocados para a sociedade de forma leviana, sem a correta contextualização. Não se iludam, a proposta é fraca", disse.

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