domingo, 17 de junho de 2012

Um mês de greve: formandos das federais apoiam professores

Iniciada no dia 17 de maio, a greve das instituições federais de ensino superior já conta com a adesão de 54 universidades, segundo levantamento feito na última sexta-feira. A principal reivindicação dos docentes é a reestruturação do plano de carreira, cuja negociação estava prevista para ocorrer até o final de março, além de melhoras na infraestrutura das instituições e melhores condições de trabalho. Embora a suspensão das atividades tenha deixado em aberto a situação do calendário acadêmico em algumas universidades, formandos de muitas faculdades reconhecem a reivindicação dos professores como válida e até integram mobilizações contra a falta de assistência estudantil pelo governo federal.

Na Universidade Federal Fluminense (UFF), por exemplo, que interrompeu as atividades no dia 22 de maio e é uma das cinco instituições que aderiram à mobilização no Rio de Janeiro, o formando do curso de Direito Allan Sinclair, de 23 anos, apoia o briga dos docentes. "O governo tem se mostrado muito difícil em relação à negociação com os professores. Há desrespeito com a classe. Mas a perspectiva é que, em breve, haja diálogo e a gente possa ter melhorias não só para os professores, mas também para os estudantes", afirma. Para Allan, que já foi aprovado para o mestrado, a paralisação deixou pendente a apresentação da monografia, o que ele avalia como um efeito não muito sério para a conclusão do curso. "De alguma forma, ela afeta a todos: alguns concluintes estão cursando matérias no último período, por exemplo, e para eles, o problema é maior", observa.

Apesar da suspensão do calendário acadêmico da UFF, Allan conta que o Centro Acadêmico do Direito discutiu, em conselho realizado na semana passada, a adoção de mecanismos alternativos para amenizar os efeitos negativos da greve sobre a conclusão dos estudos dos formandos - alguns dos quais já foram aprovados no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A proposta ainda está em deliberação pelos conselhos superiores. "Por diversos fatores, existem estudantes que não entendem a greve como algo positivo e acham que ela pode prejudicá-los, principalmente aqueles que estão no fim da faculdade. Os que estão no começo têm uma adesão e um posicionamento bastante próximo ao Centro e ao Diretório Acadêmico, tendo a greve como legítima", conta Allan.

A preocupação com o atraso da graduação também existe entre os estudantes da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), de Minas Gerais. Trabalhando em tempo integral e cursando apenas uma disciplina optativa à noite, o formando do curso de Ciências da Computação Luiz Gustavo Faria, de 23 anos, diz que não teve a rotina muito alterada pela greve, mas ficou chateado com o atraso da conclusão do curso. "Meus colegas, que fazem mais matérias, obviamente foram mais prejudicados, e vêm reclamando bastante. Eles também estão na expectativa de se formarem neste semestre e, além disso, temem que a greve prejudique o andamento das disciplinas", afirma. Segundo ele, as reclamações mais recorrentes são sobre a necessidade de reposição de aulas no final do ano, na época dos feriados.

A UFU decidiu pela adesão à greve em reunião docente no dia 15 de maio e interrompeu suas atividades por tempo indeterminado no dia 17. Entre as reivindicações dos professores, estão a reestruturação da carreira e a implantação do piso de R$ 2.329,35 com percentuais de acréscimo relativos à titulação e ao regime de trabalho. "Fico na torcida para que os alunos sejam prejudicados o mínimo possível, e que a greve alcance seu objetivo", afirma Luiz Gustavo. O estudante se diz favorável à paralisação, pois aparentemente é a única forma de os professores terem suas reivindicações atendidas, mas conta que nem todos aderiram à greve e alguns cursos, como Ciências da Computação, estão parcialmente interrompidos. "Os alunos que moram longe da família para estudar na universidade acabam tendo que ficar na cidade por conta de pouquíssimas matérias", afirma.

Greves estudantis manifestam insatisfação dos alunos
Além da mobilização dos professores, assembleias estudantis votando a paralisação das atividades por parte dos estudantes vêm ocorrendo em muitas universidades participantes da greve, como a Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade de Brasília (UnB). Na UFF, um encontro realizado no dia 21 de maio reuniu cerca de 700 estudantes e implementou greve estudantil em apoio aos professores, manifestando a insatisfação dos alunos com o corte de verbas destinadas à educação pelo governo e a precariedade do processo de expansão de diversas universidades federais. A mobilização dos estudantes também pretende resgatar questões já levantadas junto à reitoria que ainda não foram atendidas. A adesão dos técnicos administrativos da UFF à paralisação já está prevista para o final da semana.

O formando Allan Sinclair considera a positiva a manifestação estudantil. "Tenho certeza de que é importante para mim enquanto discente apoiar essa mobilização, não só por ser vinculado à categoria, mas ao ensino público como um todo", afirma o estudante. A UFU também declarou greve no dia 25 e encaminharam ao Conselho Universitário a proposta de suspensão do calendário acadêmico, para que nenhum estudante seja prejudicado pela paralisação.

Fonte: Terra (17/6/2012)

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