quarta-feira, 18 de julho de 2012

Greves preocupam Planalto

Para governo, ceder às demandas dos 135 mil servidores parados pode comprometer PIB

BRASÍLIA e RIO - A onda de greves de servidores públicos tornou-se a principal preocupação da área econômica. Ceder às pressões, na visão de um interlocutor graduado do governo, colocará em risco o propósito da presidente Dilma Rousseff de crescer acima de 2% em 2012. Um aumento generalizado dos salários do funcionalismo tiraria espaço para novos investimentos e desonerações de tributos. A Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2013, aprovada ontem, não prevê reajuste para os servidores federais. Nos bastidores, o Palácio do Planalto só admite reajustes pontuais no ano que vem para a área militar e para funcionários civis de nível médio.

Para resumir a situação, um interlocutor da presidente repetiu a frase dita por Dilma em um discurso recente: “Não se deve, neste momento, brincar à beira do abismo”.

Líderes das diversas categorias que aderiram à paralisação — em órgãos como IBGE, agências reguladoras, hospitais, universidades e ministérios — estimam que há mais de 135 mil servidores em greve, dos quais 105 mil são professores. Se todas as reivindicações dos servidores dos três poderes fossem atendidas, teriam de sair dos cofres públicos cerca de R$ 92 bilhões, segundo técnicos, dos quais R$ 60 bilhões atenderiam ao Executivo.

Com receio de que a onda de greves chegue a suas unidades, a Petrobras, que já apresenta dificuldades em cumprir suas metas de produção, se antecipou e mostrou ontem aos representantes da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e demais dirigentes sindicais nova proposta de pagamento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de 2011. A companhia ofereceu aumento de 4,6%, que representa R$ 760. Além disso, ofereceu abono de 12% nos salários, ou R$ 1.296, o que for maior, antecipando-se às negociações salariais da categoria, com data-base de setembro. Os dirigentes sindicais avaliam hoje a proposta e a encaminham para a aprovação em assembleias.

Para o professor e pesquisador do Departamento de Administração da Universidade de Brasília José Matias-Pereira, esse movimento era previsível, pois o governo anterior deu concessões aos servidores que o atual não tem como honrar:

— Do ponto de vista das contas públicas, é uma situação bastante preocupante. Todos os institutos preveem baixo crescimento. Talvez caminhemos para um aumento de 1,5% do PIB.

O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, disse que o governo Lula encontrou vários segmentos do funcionalismo com remuneração defasada, incluindo aposentados.

— O governo tem a tranquilidade de ter feito a lição de casa, valorizando as carreiras — afirmou.

No governo, a avaliação é que, em ano de eleições municipais, o movimento grevista ganha caráter extremamente político.

Mais dois ministérios deverão aderir a paralisação
O Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Distrito Federal (Sindsep-DF) relatou que há 500 funcionários de 13 órgãos públicos paralisados há cerca de um mês, e outros dois ministérios deverão engrossar a lista (Cultura e Esporte). Hoje, será realizado um grande ato, em frente ao Ministério do Planejamento, informou o diretor da entidade, Carlos Henrique Ferreira.

O novo presidente da CUT, Vagner Freitas, pediu ajuda da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para destravar as negociações emperradas no Planejamento. A CUT quer ser recebida pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

Para o diretor do Sindicato dos Servidores das Agências Reguladoras (Sinagências), Ricardo Holanda, 60% do quadro, ou pouco mais de quatro mil funcionários, já pararam em todo o país. Até a Força Sindical decidiu apoiar a paralisação dos servidores públicos. Segundo o presidente da Força, Paulo Pereira da Silva (o Paulinho), o governo se comprometeu em dezembro a negociar com a categoria em fevereiro para facilitar a votação do orçamento, mas não cumpriu o combinado.

No grupo Eletrobras, a greve está em seu segundo dia e manteve alto nível de adesão: 90%, segundo o presidente da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), Frankilim Moreira. A empresa diz que entre 75% e 90% aderiram. Tanto a Eletrobras como a FNU afirmam que a paralisação não prejudica o fornecimento de energia. Os funcionários do setor elétrico pedem aumento real de 5%. A Eletrobras ofereceu só a reposição da inflação.

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